“A arte rupestre é a denominação genérica dada aos desenhos elaborados na superfície das rochas pelas técnicas de pintura e gravura. Esse tipo de manifestação gráfica, presente nos cinco continentes, tem suas origens há mais de 30 mil anos”, declara o museólogo Naum Bandeira, responsável pelo projeto Pinturas Rupestres da Serra Negra, que reúne visitações guiadas, palestras e exibição de vídeos, no município de Palmeiras/BA.
A história nos conta que, antes de os portugueses chegaram por aqui, o Brasil já era habitado por grupos nômades, caçadores e pescadores. O que ela se esquece de destacar é a riqueza do legado deixado pelos nossos antepassados, por meio da arte rupestre. As representações são diversas e abrangem desde figuras geométricas a cenas do cotidiano, como rituais, retrato de animais (zoomorfas), pessoas (antropomorfas) e plantas (fitomorfas). Segundo Naum Bandeira, para a pintura dos painéis, nos sítios arqueológicos, os principais instrumentos eram os próprios dedos, pincéis feitos de chumaço de pelos, penas ou gravetos. “A tinta vinha de pigmentos naturais, com destaque para produtos de origem mineral, como argilas, sendo a água o elemento-base para sua aplicação. Dentre as cores mais comuns, estão vermelha, amarela, preta e branca”, declara.
Para interpretar esta arte milenar, não existe regra. O significado varia muito, a depender do grupo social. “As possibilidades tornam-se infinitas! O desenho pode ser um meio de comunicação, uma forma de magia, arte pura, marcador de territórios… Mas o certo é que nessas manifestações existe o impulso de produzir elementos estéticos e o desejo de expressão de um pensamento ou sentimento. Por isso podemos dizer que se trata de arte”, pontua o museólogo.
Conceituação
Segundo Naum Bandeira, o termo rupestre se refere à rocha ou pedra. A técnica intitulada gravura, feita através da raspagem e picotagem em pedras, também é encontrada na região, resultando em desenhos de baixo relevo.
Ao longo do tempo, a Chapada Diamantina passou por diversas transformações geológicas e climáticas, até ficar como conhecemos hoje. Com grande variedade de relevo, apresenta serras, vales profundos, grandes cavernas e diversas cachoeiras. O ambiente não poderia ser melhor para a expressão artística dos nossos antepassados. De norte a sul, a região oferece uma série de opções para estudiosos e admiradores. Confira nossas dicas e prepare a sua imaginação!
Chapada Central
Complexo Arqueológico Serra das Paridas
No distrito de Tanquinho, em Lençóis, o Complexo Arqueológico Serra das Paridas é formado por 18 sítios arqueológicos. Descoberto por catadores de mangaba após um incêndio florestal, em 2005, o local dispõe de quatro áreas para visitação com várias pinturas rupestres, que representam pessoas, animais e figuras geométricas bastante curiosas, como o desenho que lembra um extraterrestre, considerado o mascote do lugar.
A origem do nome tem três versões: provavelmente se refere à pintura de uma mulher grávida de cócoras ou às vacas que costumavam parir no local, segundo os fazendeiros. Já os antigos moradores chamam o complexo de Serra das Guaribas.
Segundo o professor e doutor em arqueologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Carlos Etchevarne, a Serra das Paridas é um verdadeiro mostruário de estilos pictóricos. “A Chapada Diamantina tem um universo de grafismos que daria inveja a muitos países do mundo”, comenta.
Para conhecer este atrativo, é preciso estar acompanhado por um guia de turismo com certificado específico. O passeio pode ser combinado com a Cachoeira do Mosquito e com o almoço caseiro oferecido no restaurante do Complexo Turístico Fazenda Santo Antônio, porta de entrada para a queda d’água. A maioria dos alimentos é cultivada na horta da própria fazenda.
Distância de carro: 36 km
Acesso a pé: 500 m
Tempo médio: 30 min
Esforço físico: leve
Pinturas Rupestres da Serra Negra
O roteiro parte de Palmeiras, às 9h, por uma estrada de chão até o sítio de pinturas no Povoado da Serra Negra. Oito painéis podem ser visitados. Durante o trajeto, que é conduzido pelo museólogo Naum Bandeira, há bancos para paradas e observação detalhada das representações, que incluem imagens antropomorfas, zoomorfas e figuras geométricas. O passeio termina às 12h, com retorno para o centro da cidade.
Distância de carro: 10 km
Acesso a pé: 700 m
Tempo médio: 3 h
Esforço físico: leve
Taxa de visitação: R$ 60. O valor inclui o transfer, o guia especializado, além do material explicativo. Mais informações pelo telefone (75) 3344-1379 ou e-mail naumbandeira@gmail.com
Em Palmeiras também existe o sítio arqueológico do Matão, uma área bastante verde, acidentada e com formações rochosas em toda a sua extensão. Este, porém, ainda não está aberto à visitação.
Chapada Norte
Com mais de 200 sítios arqueológicos, a cidade de Morro do Chapéu é um dos municípios envolvidos no Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios de Arte Rupestre “Circuitos Arqueológicos da Chapada Diamantina”, uma parceria do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) com a UFBA, envolvendo prefeituras e comunidades dos municípios chapadenses. Com território diferenciado e único, Morro apresenta um verdadeiro mosaico de pinturas, com formas geométricas e abstratas; figuras de animais, como emas e veados, compondo cenas que se alinham em fileiras horizontais ou ocupam inteiramente um bloco de rochas; representações humanas, demostrando cenas de expressividade e dinamismo; fatos do cotidiano, como a caça, pesca e coleta, além de imagens das armas artesanais (flechas, tacapes e lanças) e indumentária, a exemplo de cocares. Em Jacobina, conhecida como a “Cidade do Ouro”, também é possível viajar por esta arte milenar.
Outros
Próximo ao Rio Jiboia, na comunidade da Raposa, em Iramaia, existe um sítio impressionante de pinturas rupestres, segundo Pablo Casella, analista ambiental do ICMBio. “De fato, o painel é deslumbrante! Dos mais incríveis da Chapada (e, talvez, do Brasil), se igualando, em minha opinião, em termos de beleza, complexidade, variedade de temas ao painel do Matão (Palmeiras) e ao da Serra das Paridas (Lençóis)”, destaca.
A visitação ainda não está totalmente regulamentada. Por isso é importante conhecer o lugar acompanhado por um condutor da comunidade do Baixão, em Ibicoara, por onde começa a trilha, normalmente.
Além desses municípios, é possível conhecer sítios arqueológicos em Iraquara, Mucugê, Seabra e Rio de Contas. Mais informações em www.bahiaarqueologia.com
Recomendações
Ao visitar um sítio arqueológico, colabore com a preservação do local. Assim, sua riqueza histórica e cênica permanecerá “viva” para que o máximo de pessoas tenha o privilégio de conhecê-lo. “Jamais risque ou piche as rochas onde estão os desenhos e nunca toque nas pinturas ou gravuras!”, recomenda o museólogo Bandeira.
Veja abaixo mais algumas fotos do Complexo Arqueológico da Serra das Paridas: