A Chapada Diamantina como conhecemos hoje é considerada um dos principais destinos turísticos brasileiros devido à sua biodiversidade, suas imensas cachoeiras, suas cidades históricas e seu povo acolhedor. Mas a verdadeira riqueza da Chapada Diamantina reside em seu passado.
Desde a era pré-histórica até os dias atuais, a Chapada Diamantina foi habitada por diversos povos que deixaram suas marcas. Primeiro, como em todo o território brasileiro, a região foi habitada pelos indígenas. Na sequência, chegaram os colonizadores e africanos para criar gado e plantar café. Já neste período surgem as primeiras comunidades quilombolas. Com a descoberta de ouro e diamante, o ciclo do garimpo se inicia, trazendo à Chapada uma época de pompa e exploração natural e humana. Tem início a Estrada Real, conectando Rio de Contas a Jacobina, e com o fim do garimpo chega a era turística.
São séculos de histórias, lutas, batalhas, ascensão e declínio econômico que renderam poderosas lendas e ricos personagens que somente bons livros são capazes de retratar.
Este conteúdo, elaborado com a colaboração da pesquisadora Gislene Moreira e da Biblioteca do Capão, traz nove obras literárias imperdíveis para quem deseja se aprofundar na história dessa região tão encantadora. São obras que se tornaram sucesso em vendas, inspiraram filmes, novelas e cordéis.
Autor: Itamar Vieira Junior
Ano: 2019
Na região de Marimbus, na Chapada Diamantina, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente que muda e conecta suas vidas para sempre. Com uma trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção, revelando detalhes do cotidiano de famílias negras que vivem em uma situação análoga à escravidão, sempre guiadas pelas festas e pelos mistérios do Jarê.
O romance é um dos maiores sucessos — de público e crítica — da literatura brasileira das últimas décadas, tendo sido traduzido em mais de vinte países. O livro foi vencedor do prêmio Leya em 2018.
Vencedor dos prêmios Leya, Oceanos e Jabuti, o autor Itamar Vieira Junior nasceu em Salvador, na Bahia, em 1979. É geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA.
Autora: Mô Moreira
Ano: 2023
A palavra Munturo é sinônimo de entulho, lixo e sujeira. Mas nesta obra de ficção, Mô Moreira ressignifica o termo, e traz outros sentidos ao descartável. Para Durval Muniz Albuquerque Júnior, “Das cinzas e do pó que restaram dos desmoronamentos do mundo, Munturo restaura as flores e as brasas de esperança”. Com uma narrativa mágica e instigante, a protagonista Natalina vasculha os escombros sertanejos numa busca de si e da re-existência das mulheres do sertão. Sobreviventes da colonização, do coronelismo e do patriarcado, elas buscam reinventar-se num mundo em mutação, onde os antigos pilares se camuflam entre inovações e modernidades. Nesta viagem aos novos sertões, as ruínas dos brasis profundos podem também ser o ponto de partida para a reconstrução e a cura de outras perspectivas de ser e estar no mundo. Munturo é um convite a um mergulho profundo nas luzes e sombras dos sertões contemporâneos.
Autor: Delmar Araújo
Ano: 2023
A narrativa revela a trajetória histórica da vida, luta, fé e resistência que atravessou as diversas gerações das Bazu, senhoras pretas, descendentes nagôs, nascidas no ribeirão da Mãe d’Água, em Lençóis – Bahia. A ideia de que a presença delas em seu lugar de saber ancestral impede o progresso socioeconômico da região e causa prejuízos ambientais oculta os reais interesses de seus desafetos, que usam a lei para cometer crimes de racismo socioambiental, preconceito étnico-racial, intolerância religiosa e desrespeito à memória histórica e cultural.
Autor: Pablo Casella.
Ano: 2024
“Contra Fogo” é um livro que narra a história de personagens que são verdadeiros heróis: os brigadistas voluntários de incêndios florestais que trabalham nas matas e reservas ambientais brasileiras. Os incêndios na Chapada Diamantina e os desafios enfrentados nessa tarefa complexa serviram de pano de fundo para o primeiro romance escrito pelo analista ambiental Pablo Casella.
O romance de estreia de Pablo Casella aborda um tema urgente com uma prosa bela e original. E de tão natural e cheio de cores locais, que parece ter brotado direto do chão da Chapada Diamantina.
Um grupo de brigadistas voluntários, entre eles Cunga, Zia, Trote, Jotão, Adobim, Firóso e Abner, mais o cachorro Mutuca, são liderados por Deja, narrador deste romance. Moradores da região da Chapada Diamantina, na Bahia, eles arriscam a própria vida para deter o avanço descontrolado das chamas que devoram a fauna, a flora e os rios. Sem poder aguardar a ação das autoridades burocráticas, eles aprenderam a apartar a briga do fogo com a terra na marra. Sobretudo nos tempos de seca, em que se enfiam nas matas por dias e dias, sem descanso. Cada um desses personagens expande ao seu modo esse universo peculiar, mas é a visão de Deja, personagem principal, que torna tudo complexo e vivo.
Autor: Lindolfo Rocha
Ano: 1910
“Maria Dusá” é ambientado no atual povoado de Igatu (distrito de Andaraí), então conhecido como Xique-Xique, região das “Lavras” (Mucugê, Lençóis, Andaraí e Rio de Contas).
O romance apresenta um triângulo amoroso inconcluso envolvendo um forasteiro, o tropeiro Ricardo Brandão, que ao passar pelo sertão baiano em direção às lavras da Chapada Diamantina, conhece Maria Alves, mulher que manteria viva na lembrança a imagem do tropeiro.
A obra chegou a ser adaptada pelo roteirista Manoel Carlos, inspirando a produção de uma novela da Globo chamada “Maria, Maria”, em 1978.
Esta obra é considerada “domínio público” e encontra-se disponível para download gratuito.
Sobre o autor Lindolfo Rocha
Lindolfo Rocha é um dos precursores do romance regionalista moderno no Brasil. Atuou como jornalista, escritor, professor, juiz de direito, astrônomo, poeta, músico e historiador. Nasceu em Grão Mogol, Minas Gerais, em 3 de abril de 1862. Faleceu em Salvador, em 30 de dezembro de 1911.
Autor: Herberto Sales
Ano: 1944
Na década de 1930, “coronéis”, garimpeiros e aventureiros são atraídos para a Chapada Diamantina em busca do enriquecimento rápido proporcionado pela mineração de diamantes na região. Com muitas brigas e muito esforço, contando sempre com a sorte, alguns conseguiam, eventualmente, pequenas fortunas, que rapidamente dissipavam nos bordeis locais.
Cascalho é o título de estreia do escritor Herberto Sales, publicado originalmente em 1944, considerado um expoente do regionalismo. Coloca-se ao lado das obras nordestinas relevantes de autores como Graciliano Ramos, Jorge Amado e Rachel de Queiroz mas, ao contrário destes, em que o ambiente é o engenho, a seca ou o litoral, ali o autor registra o universo da Chapada Diamantina e sua cidade natal, Andaraí.
A repercussão do romance na cidade não foi positiva e Sales foi ameaçado de morte pelos poderosos locais que se sentiram ridicularizados pela forma como teriam sido retratados na obra, de forma que o autor refugiou-se no Rio de Janeiro.
A obra foi traduzida para diversos países, entre eles, Tchecoslováquia, Romênia, Itália, Polônia, Argentina, Rússia, China, Coreia e Japão, além de edições em Portugal.
O Filme
Cascalho é um filme brasileiro de 2004, dirigido por Tuna Espinheira, com os atores Othon Bastos e Irving São Paulo nos papeis principais, vivendo, respectivamente, um poderoso “coronel” e um promotor de justiça.
O filme, rodado na Chapada Diamantina, contém belas imagens da região.
Autor: Walfrido Moraes
Ano: 1963
“Jagunços e Heróis” traz a narrativa histórica e a interpretação sociológica, política e econômica da civilização do diamante nas Lavras da Bahia. Essa é, aliás, como salienta o autor, uma região que “nasceu e viveu sob o signo da turbulência, numa democracia telúrica mais singulares da história”. Horácio de Queirós Matos (1882-1931), político e coronel do sertão baiano da primeira metade do século XX, chefe de verdadeiro exército de jagunços, envolvendo-se em diversas lutas armadas ao longo da vida. Sua trajetória política principia ao ganhar a patente de tenente-coronel da Guarda Nacional, herdando do tio Clementino Matos o comando da família e após muitas lutas contra adversários, tornou-se senhor absoluto de vasta região da Chapada Diamantina, sendo Intendente de Lençóis (rico centro minerador) e Senador estadual na Bahia, controlando a vida pública por várias décadas, era lei e autoridade máxima.
Portanto, Walfrido Moraes analisa com documentação rica a epopeia de Horácio de Matos e o despovoamento da Chapada Diamantina baiana, provocado pelas andanças de suas tropas nas lutas políticas das décadas de 20 e 30. Essa publicação é uma contribuição das mais valiosas para a caracterização exata da civilização do diamante nas lavras da Bahia.
Autoras: Mãe Rosa e Lilian Pacheco
Ano: 2009
Este livro foi criado em oficinas de grupos cooperativos do Grãos de Luz e Griô. A obra conta, por meio de versos, a história de vida de Mãe Rosa, cantada, pintada, dramatizada, desenhada e filmada pelas crianças, jovens e adolescentes.
O Velho Griô contou a história em vivências da pedagogia griô nas oficinas e nas escolas locais, recriando os lugares dos antigos e mestres da tradição oral na educação para o fortalecimento da identidade e ancestralidade de estudantes e educadores lençoenses.
Autoria: Editora Flora
Ano: 2023
Este não é um livro, e sim, um guia de viagem, mas tem papel fundamental para quem deseja se aprofundar sobre os encantos da Chapada Diamantina. A obra traz um apanhado geral e atualizado sobre biodiversidade, história, cultura, gastronomia, geologia e arte, tendo como fio condutor o olhar turístico sobre a região.
Saiba mais sobre o Guia de Viagem Chapada Diamantina.
São 212 páginas trazendo 215 fotos, 101 atrativos, 6 mapas e um pôster enorme do Parque Nacional da Chapada Diamantina.
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