Uma mistura de mel, água, frutas e especiarias. Usado, ao longo da história, por vikings, gregos e romanos, o hidromel parece ter surgido de forma natural nas savanas africanas, após fortes chuvas, o que provocou a inundação das colmeias. “Em 1.700 a.C., Rig-Veda Hindu descreveu o hidromel como a ‘bebida dos deuses’. Conta-se, também, que a rainha da Etiópia a bebia como afrodisíaco”, comenta Betinho Matos, produtor do Regalia, no Vale do Capão.
Na Chapada Diamantina, essa bebida alcoólica vem sendo feita com ingredientes orgânicos e regionais, com destaque para o mel Flor Nativa. “A ideia nasceu quando o norte-americano, com descendência italiana, Dominic Melvin Desano, que já é bastante experiente na arte de fazer hidromel, visitou Ian Rocha, integrante da Associação de Apicultura e Meliponicultura do Vale do Capão. Ele conheceu e se apaixonou por nosso mel orgânico [Flor Nativa]. De prontidão, resolveu fazer a bebida com nosso produto. Levamos a proposta a sério e elaboramos uma quantidade maior, lançada na nossa festa de aniversário de 18 anos da associação, que aconteceu no mês de abril. É um produto completamente natural, que utiliza apenas água pura, mel orgânico e, inicialmente, um fermento importado, que, a partir da segunda fermentação, já não se faz mais necessário”, descreve Pedro Constam, presidente da associação.
Fermentado por cerca de 60 dias, o hidromel pode ser envelhecido ou não. “O nosso fez bastante sucesso sem envelhecimento. O apelidamos de Melvino. Tudo é feito no Capão artesanalmente e a comercialização também se limita ao Vale, por enquanto”, pontua Pedro. Segundo Ian Rocha, a ideia é transformar o hidromel em um produto de excelência, assim como o Flor Nativa, premiado como o melhor nos Congressos Baianos de Apicultura em 2005, 2012 e 2013, e, em 2009, no Congresso Nordestino de Apicultura. “Estamos trabalhando para regulamentar a
produção e comercialização. Por enquanto, a venda se dá diretamente com os produtores”, ressalta.
Ao lado do Melvino, está o Regalia, outro hidromel elaborado no Vale do Capão. Uva, açaí, ameixa, cacau e café compõem o sabor da bebida, de alto teor alcoólico. “O fato de eu ter dado foco ao hidromel foi uma tentativa de integrar a rede de produtores locais, oferecendo um produto ecológico, social e autêntico. Uso o mel Flor Nativa e frutas de pequenos agricultores familiares ou de empresas com certificação orgânica. Para a produção, é preciso dedicação e sensibilidade. A escolha do teor alcoólico e dos sabores está na intenção de inovar, oferecendo opções exóticas e únicas. Recomendamos beber o de açaí com uva bordô gelado, entre 8 e 12 graus. Seu sabor se assemelha aos vinhos bordôs, com a diferença do toque do açaí. Já o de ameixa, chocolate e café pode ser consumido em temperaturas mais altas. Tem sabor mais seco e doce, sendo ideal para sobremesas, com suaves notas de tamarindo e pêssego”, descreve o produtor.
Natural da capital baiana, Carlos Alberto Campos Matos Filho é formado em turismo e pós-graduado em desenvolvimento sustentável, além de autodidata na produção de fermentados. “Minha família paterna é de Brotas de Macaúbas, na Chapada Diamantina, e fez história com a agricultura orgânica, ao lado da criação de abelhas, manipulação de remédios naturais e fabricação de bebidas. Meu bisavô, Seu Nino, foi minha grande inspiração. Muito sábio, lúcido e solidário, só comia o que plantava. Ele fez uma cerveja chamada Zilá, em homenagem à minha avó. Talvez tenha sido a primeira da região. Cheguei a fabricar cerveja em 2012. Desde então, testo e comercializo invenções fermentadas com receitas originais”, destaca.
Onde encontrar
Melvino: No Sítio Grupiara, a 500m da vila
Regalia: Na Taverna do Vale e no açougue da vila, além da Pousada Lagoa das Cores